terça-feira, 14 de junho de 2011

Sai para respirar fundo

Hoje sai para caminhar até a esquina, sai só para poder sentir alguns filetes desse sol de inverno que meu quarto tentava esconder por de trás da janela. Sai para tentar esquentar minha alma e meus planos, para deixar o vento frio balançar alguns fios do meu cabelo, deixando-os cada vez mais desordenados.
Fiquei ali sentada na calçada tentando alcançar o horizonte e inventando caminhos desconhecidos, só para imaginar até aonde eu consigo ir depois que o sol se por. Fiquei inventando futuro e desconcertando o presente e tive a impressão que se ficasse escorada ali por mais 5 minutos descobriria todos os mistérios da vida, todas as incertezas que vinham me inundando de uns tempos pra ca.
Acho que tomei fôlego para respirar novos ares. Para sentir outros sentimentos, para me entreter com outras pessoas. E não falo de trocas de galanteios, falo de um verdadeiro encontro de almas que sacam pra valer qual é a da vida. Nada que seja eterno, a vida é efêmera demais para se pensar nisso, falo de poder conversar sem nenhuma pretençao, sem nenhum plano, sem nenhuma demanda. Talvez alguém para fumar alguns cigarros e ficar deitado na grama conversando sobre qualquer coisa que pintar, contando as estrelas ou cantarolando a primeira música que vier a cabeça. Alguém louco de verdade pela vida.

domingo, 1 de maio de 2011

Sei lá. Quase me esqueci de me permitir

Sei lá. Chega a ser meio estranho eu e você. Meio estranho nossos olhares se encontrando, se amando perdidamente, se beijando, nossas mãos se esbarrando uma na outra meio sem querer, meio por querer. Chega a ser estranha essa nossa brincadeira de falar sempre a verdade, de contar segredos e rir de qualquer bobagem.

Chega a ser inexplicável.

Tinha passado ai só pra fumar um cigarro. Prometi não demorar, dois ou três tragos, no máximo. Mas sei lá o que me deu ontem. Acho que tinha acordado com um tanto pra dizer. Uma súbita vontade de te contar os caminhos que eu andei percorrendo, as bocas que eu andei beijando, as músicas que andei escutando. Uma vontade tão grande que as palavras foram se emendando umas nas outras formando frases tortas, desajeitadas que só nos conseguíamos entender. O maço foi acabando. Os minutos foram se transformando em horas e as conversas se tornando cada vez mais intermináveis.

E eu fui ficando,fui me entregando. Me entregando como nunca havia me entregado. Talvez por medo de me perder de mim mesma e de tudo que aprendi com o mundo. Talvez por medo de não conseguir disfarçar o brilho dos meus olhos e algo que eu sentia entre o lado esquerdo e direito do corpo. O que eu não sabia é que fugindo de você eu estava fugindo de mim mesma. Fugindo de me permitir.

domingo, 3 de abril de 2011

Sobre me esquecer

Ontem me peguei pensando em você. Em como você beijava meu pescoço daquele jeito meio sem jeito, de como passava as mãos sobre os meus cabelos e das noites que dormíamos juntos embebedados pelo vento que entrava na janela do seu quarto.
Me peguei pensando em como me dói escutar seu choro pelo telefone, em como é difícil saber que suas lágrimas rolam desajeitadas pelo seu rosto procurando qualquer notícia minha, qualquer eco das palavras que saem tortas da minha boca, qualquer sombra de vento que eu provocar quando passar. Pode soar falso, mas me dói saber que você ainda não me esqueceu.

Olha, a verdade é que eu não sei amar.

Não sei amar do jeito que você ama. Amor para mim, só com liberdade. Para você liberdade demais sufoca. O melhor amor sempre foi aquele que não se declara a quatro ventos e que às vezes nem se fala. Aquele que se sabe e se sente. Nada de amores que careçam de controle, razão e ponderação. A verdade é que, cada vez mais, cresce dentro de mim um ímpeto desejo de trocar o certo pelo incerto.

Escrevo é para ver se você me esquece, se, por favor, me esquece, porque eu estou indo embora. Entenda que vez ou outra eu preciso ficar sozinha, preciso alimentar o desejo de liberdade que fulmina no meu peito. Preciso seguir por essa vida vagando, como é do meu jeito de ser. Ser livre.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu vou partir

A verdade é que resolvi pegar todas as nossas fotos, todas as cartas, todos os textos encharcados de sonhos e promessas e colocá-los em uma caixinha azul bordada com a letra R. Vou cavar um buraco bem fundo e enterrá-la. Vou pegar um desses gravetos tortos que ficam espalhados pelo chão e fazer sobre esta terra seca e avermelhada um X. Só por diversão. Só para saber que ali guardei um pouquinho de mim, um pouquinho de nós. E então vou fazer as minhas malas. Talvez apanhe as roupas secas no varal, um bloquinho verde e um lápis, mas nenhuma borracha, nenhuma lembrança, nenhum medo, nenhuma nostalgia. E vou sair por ai. Vou sair, porque minha alma tem dessas de seguir. De seguir para lugar algum, para ver o por do sol se ocultar no horizonte, para respirar o ar das montanhas, para mergulhar nas águas salgadas dos mares e para escutar o tilintar das águas doces das cachoeiras batendo sobre as pedras. Não te peço para me esperar, porque eu vou e não sei se volto.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Aquele olhar

Hoje eu olhei no fundo dos seus olhos pela manha. Você tomava seu habitual café com leite. Seu olhar vagava exausto. Passava sobre as prateleiras, sobre o sofá vermelho da sala, sobre as persianas da janela, que balançavam suavemente com o tilintar do vento. E então, foi inevitável. Seu olhar se cruzou com o meu. Talvez por menos de um minuto, mas foi um dos minutos mais longos da minha vida. Os segundos iam se arrastando separados uns dos outros por uma eternidade. Até que você se virou. Se virou como quem esta cansado de discutir, cansado de se decepcionar. Eu fiquei paralisada, tentando buscar na minha mente palavras para te dizer o quanto eu te amo.
Mas quando eu arriscava dizer alguma coisa, as palavras evaporavam da minha boca. E depois condensavam deixando o ar irrespirável, quase sólido. O silêncio era desconfortante. Era um silencio preenchido por um turbilhão de pensamentos inacabados que faziam um intercambio entre a minha cabeça e a sua. Iam e voltavam. Iam e voltavam. Até que um soluço quebrou o fluxo dos pensamentos. Eu desmoronava em lágrimas. E então você me olhou preocupado. Aquele olhar de pai. Aquele olhar de quem perdoa. Aquele olhar de quem ama.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Nós éramos


Nós éramos feito carne e unha
Meia e sapato
Nome e alcunha
Bife e batata

Até que nossas vidas mudaram
Ela passou a usar sandália de salto
Virou doutora
Vegetariana

Nós paramos de combinar
Nossa amizade parou de funcionar
Assim como uma caneta que perde a tinta
Falha,
Funciona,
Falha.

Assim como a meia que fura
Como a alcunha que muda
Como a batata que acaba
É a vida que nos separa.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Lá vai o trem, carregado de muitas saudades

Estava ali sentada na estação ferroviária. Levava comigo uma mala azul marinho, um pouco desbotada pelo uso excessivo. Dentro da mala algumas roupas de uso diário, pares de meia, algumas fotografias amareladas, e meu bom e velho livro. A mala estava cheia. Como se eu fosse ir para nunca mais voltar. O problema de quem vai e não volta é que a saudade dilacera no peito, queima em chamas e deixa apenas as cinzas. Mas eu havia chegado à conclusão que a saudade era melhor do que caminhar vazio. Então eu entrei no trem. Destino: Vitória. Sem grandes motivos, sem grandes objetivos. Confesso, que achava isso ótimo. As melhores viagens são as que carregamos as menores expectativas. A mala estava cheia, mas o coração vazio. Porém, eram tantos corações naquele trem que, estranhamente, senti o meu mais preenchido. Preenchido pelas historias que vagavam a minha mente. Imaginava porque aquelas pessoas estavam sentadas ali. Olhava se a mala estava cheia e pensava na possibilidade do coração estar vazio. E então o tempo foi passando e eu fui olhando as malas.  Até que me cansei e comecei a olhar pela janela. Aquela paisagem me trazia uma paz tão grande que eu queria poder dividi La com os outros passageiros. Infelizmente, os dois passageiros que estavam sentados perto de mim pareciam muito compenetrados nos seus próprios pensamentos. Então  contentei me por tirar o meu óculos e o meu livro da mala. Abri a janela, o vento soprava os meus cabelos, comecei a ler o livro. Comecei a viajar na estrada e nas letras. A mala tinha esvaziado um pouco e o coração certamente estava mais cheio.